Roteiro Inacabado

"O que você faria se não tivesse medo?"A pergunta visitava sua mente de minuto em minuto, em uma repetição enlouquecedora. Procurava centenas de respostas, mas, no fundo, já sabia."Arriscaria para ser feliz".E foi assim que ela resolveu.

17 de mar. de 2008

Ela perfurmou-se com carinho. Duas gotinhas apenas, estrategicamente, uma em cada lóbulo. Ainda com o indicador levemente molhado, tocou-se entre os seios, deixando no colo um restinho da fragrância barata que costumava usar.

Levantou-se da poltrona em frente à penteadeira e examinou-se no espelho do quarto. Coxas grossas e roliças, dessas de endoidecer os homens. Passou a mão pela barriga, já ligeiramente pronunciada pelo passar dos anos.

Jogou o cabelo pra trás e passou a língua nos lábios, na vã tentativa de ser sensual.

Fez uma pose que enlouqueceria metade das danceterias dos cabarés de quinta categoria pelos quais havia passado.

Ligou o rádio. Dançou sozinha uma música romântica da Ana Carolinado Roberto Carlos. Fez mais poses em frente ao espelho. Simulou a conquista de cima de um palco imaginário, fazendo sinal para um "contador ferroviário" caminhoneiro invisível.

Rodopiou sobre si mesma, abriu os braços e cantou bonito com sua vozinha de taquara rachada, quase afônica.

Fez teatro de sombras com a luz do abajur de cetim cor-de-rosa.

Imaginou como o receberia quando ele chegasse.

Contou quantos beijos daria nele, e como reclamaria da barba por fazer e da camisa suada.

Sentiu aquele característico calor quando lembrou dos carinhos brutos dele. Ansiosos. Urgentes.

Jogou-se na cama e adormeceu soluçando, lembrando daquele que não viria mais naquela noite, nem em muitas noites depois.

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