Roteiro Inacabado

"O que você faria se não tivesse medo?"A pergunta visitava sua mente de minuto em minuto, em uma repetição enlouquecedora. Procurava centenas de respostas, mas, no fundo, já sabia."Arriscaria para ser feliz".E foi assim que ela resolveu.

23 de mar. de 2008




Tive que aprender, na marra, a lidar com a saudade que nunca vai passar. A saudade de quem foi embora pra sempre. E sempre quis escrever isso, mas nunca antes tive coragem. Ou, talvez, nunca tenha tido forças. Começo e, de repente, não consigo mais teclar.

Se eu soubesse que aquela seria a última vez que eu fosse te ver, teria te abraçado mais forte. Teria ido um dia antes, pelo menos, te encontrar... meia hora que fosse, pra jogar conversa fora. Pra lembrar do seu sorriso ingênuo. Pra contar casos que agora eu não posso mais te contar. Casos do Vitinho, do Henrique e do Renatinho. Coisas que não fazem sentido pra mais ninguém, mas pra gente fazia. E como. Outro dia, tive notícias do Vitinho. Queria ter te contado.

E das vezes que eu chorei na escada do prédio. Menino. Por uma coisa tão banal. E você, tão menino quanto eu, me socorria. E me dizia palavras que pareciam tão mais maduras do que eu. E nem eram. Éramos dois adolescentes com nossos problemas adolescentes que, para nós, eram os maiores problemas do mundo. E seu moleton da Benneton? Está na minha casa até hoje. Assim como todos os ursos de pelúcia daquela promoção de Páscoa do "Econômico" e todas as cartas com aquela letra sempre vermelha na época do colégio. Aquela letra que escrevia “Inter Campeão” em todos os meus cadernos e me deixava louca! Aquela sua inocência de menino que nunca passou. Pessoa boa que pensava que o mundo era bom também.

Por um ano, guardei seu presente de aniversário. Por falta de tempo pra gente se encontrar e eu poder entregá-lo pessoalmente a você. Já era quase o outro aniversário quando nos encontramos pra aquela que seria a nossa despedida. Mas só soube disso depois. O destino aprontou essa comigo. E ainda me pergunto se as coisas acontecem do jeito que têm que acontecer mesmo. Quis Deus que eu tivesse te entregado seu presente de aniversário naquele dia. Não fosse isso, não me perdoaria por não ter achado um tempo que fosse pra te encontrar.

Marcinho, você vai ser, pra sempre, meu melhor amigo. Quando você foi embora, levou junto parte da minha história. Mas eu tenho minha máquina do tempo. E o que me faz voltar ao passado são minhas lembranças. Lembranças de um tempo que não volta nunca mais. Espero que Deus esteja cuidando de você direitinho, porque eu ainda tenho vários casos pra te contar. Por enquanto, é só saudade.

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