Roteiro Inacabado

"O que você faria se não tivesse medo?"A pergunta visitava sua mente de minuto em minuto, em uma repetição enlouquecedora. Procurava centenas de respostas, mas, no fundo, já sabia."Arriscaria para ser feliz".E foi assim que ela resolveu.

13 de jul. de 2008



Ou eu não combino com o mundo ou é o mundo que não combina comigo. Pra mim só isso faz algum sentido. Foi só essa explicação infantil que encontrei. Tenho muitos amigos, mas não faço o que gosto, nunca achei um emprego que fosse a minha cara. Ainda não consegui concluir a faculdade. Só faço as escolhas erradas, nunca acertei mais de dois números na mega-sena e não posso fazer tatuagem. Tenho tendência à melancolia e tenho chorado com muita facilidade. Com certeza, eu não pertenço a este mundo.


Sempre quis ser um exemplo pras pessoas. Criei uma super-heroína que nunca existiu na vida real. Sempre procurei mostrar pras pessoas o lado bom das coisas que eu mesma nunca consegui ver. Sempre disse “vai passar” quando parecia que ia ser eterno o sofrimento e não havia sequer um raio de luz no final do túnel. Sempre passei de ano direto na época da escola. Pago minhas contas antes do vencimento. Cumpro minhas obrigações e exijo meus direitos. Nunca admiti que me julgassem sem me conhecer. Nunca admiti que desconfiassem do meu caráter ou da minha idoneidade. Nunca usei meu corpo pra distrair os homens. Sempre agi de boa fé. Sempre quis fazer algo na vida que justificasse minha existência estúpida.


Mas, às vezes, acho que minha missão aqui já foi cumprida. Não há nada mais que eu possa fazer pelas pessoas, pelo mundo ou por mim mesma. Já cansei de me decepcionar faz tempo. Não que eu tenha desistido. É que não tenho mais forças. Não consigo mais dizer pras pessoas que vai dar tudo certo. Não, eu não sei se vai dar certo. Não consigo dizer “vai passar”, porque eu sei que passa, mas às vezes demora muito mais tempo do que a gente agüenta e, às vezes, a gente precisa ficar boa já. Não consigo achar que é só uma fase, pois a “fase” pode ser uma vida toda. Não consigo ser otimista depois de tanto chão e tanta estrada de terra. Meus vinte e poucos anos já passaram e levaram com eles minha visão romântica da vida. Não sou mais aquela menina de onze anos de idade que imitava a Xuxa, cantando “Arco-íris” e pedindo pras crianças dizerem não às drogas, mesmo imaginando na minha cabeça ingênua que droga era coisa só de bandido.


Hoje, sinto que eu poderia ter feito tudo diferente pra me sentir mais inteirada aqui. Poderia ter passado por cima de algumas pessoas, poderia ter deixado alguns amigos na mão, poderia não ter sido tão honesta, poderia ter mentido pra algumas pessoas, poderia ter mandado outras à merda. Hoje, percebo que, mesmo fazendo meu melhor, não sou a filha, a amiga ou a namorada dos sonhos de ninguém. Simplesmente por achar que o mundo não é do jeito que deveria ser, por não acreditar em contos-de-fadas, por não aceitar migalhas. Por achar ridículas as atitudes do tipo “todo mundo faz, eu também tenho que fazer”. Gente que usa isso como uma desculpa imbecil “todo mundo faz”. Por isso nunca dei certo. Porque nunca tomei as idiotices alheias como minhas. Não tenho nada a ver com “todo mundo”. Não aceito a atitude de “todo mundo” e, hoje, desejo que todo mundo se dane. Hoje, vai ser assim: só eu e meu mundo.

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