Roteiro Inacabado

"O que você faria se não tivesse medo?"A pergunta visitava sua mente de minuto em minuto, em uma repetição enlouquecedora. Procurava centenas de respostas, mas, no fundo, já sabia."Arriscaria para ser feliz".E foi assim que ela resolveu.

3 de fev. de 2009

Mantenha Distância,,, (mas como é difícil!!!)

Quando gostamos de alguém ou alguma coisa, nossa tendência natural é a de nos aproximarmos cada vez mais desse objeto, certo? Sempre mais um pouquinho... mais um pouquinho... mais um pouquinho... Pois bem, esse movimento de aproximação é natural, espontâneo e esperado, mas, já prestou atenção ao que acontece enquanto nos aproximamos?

Faça a experiência aí: olhe para um objeto qualquer, uma caneta, por exemplo. Vá se aproximando dela. Vá trazendo cada vez para mais perto dos olhos... O que acontece? Você, no começo, você enxerga a caneta inteira e sempre um pouco melhor, mas, a partir de um determinado momento, começa a não enxergar mais o que estava em volta da caneta, só ela, depois nem a vê mais em seu todo, começa a enxergá-la em parte, e essa parte que você vê é cada vez menor, até que vira um borrão que você não compreende e, se continuar a aproximar, machuca a vista, podendo até cegar. Não é o que acontece?

Pois então, quando nos aproximamos de um objeto qualquer, a partir de determinado momento começamos a perder a visão do todo e, quando não há mais um distanciamento crítico, nem o reconhecemos mais.

Para enxergar corretamente um objeto, precisamos respeitar essa distância mínima necessária. Mesmo que o objeto seja a pessoa amada, um projeto, nosso trabalho, um amigo, a religião, uma decisão a ser tomada.

Por isso, como tendemos a nos aproximar de tudo o que nos diz respeito, temos de tomar cuidado para não exagerar, porque, do contrário, acabamos por perder o distanciamento crítico e começar a fazer bobagens, a imaginar que nos misturamos a esses objetos cujos limites não enxergamos mais, ao ponto de confundirmos nossa própria identidade com a identidade do objeto, complicando demais, criando problemas sob uma base irreal, inviabilizando a maior parte das soluções possíveis.

Quem está distante, normalmente, além de nos ver tropeçar em nossos objetos feito patetas, ainda é capaz de enxergar nosso ambiente e perceber o quanto nossa confusão o perturba, o quanto o transformamos num circo ou num hospício.

Tropeçamos no que nos interessa por horas, dias, meses a fio, a vida inteira e, quando vemos, somos enterrados com nossos problemas e complicações: apenas objetos dos quais nos aproximamos além do que deveríamos, com os quais nos misturamos indevidamente, ao ponto de perder a percepção dos limites que os separam de nossas individualidades.

Quando passamos do ponto, começamos a não mais analisar racionalmente a pessoa, o problema, o emprego, a coisa, mas a julgá-los como partes de nós mesmos, e esse hibridismo não corresponde à realidade, não faz sentido para quem está distante e vê o quanto enlouquecemos em nosso cotidiano. Normais e insanos, passamos a ser considerados estranhos e a perder a confiabilidade.

Portanto, a melhor coisa a fazer nessa vida é manter distância suficiente de todos os objetos de nosso interesse - os amigos, amores, projetos, e tais - para não haver essa falsa fusão, nem a contaminação, confusão entre nós e eles.

Como dizem os budistas: exercitar o desapego para conhecer a Verdade e a Felicidade; tomar distância do objeto amado para eliminar a Ilusão e o Sofrimento; trocar o desejo pela observação racional e inspirada.


Cláudio Rubio

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