Roteiro Inacabado

"O que você faria se não tivesse medo?"A pergunta visitava sua mente de minuto em minuto, em uma repetição enlouquecedora. Procurava centenas de respostas, mas, no fundo, já sabia."Arriscaria para ser feliz".E foi assim que ela resolveu.

1 de nov. de 2009

Visitas...




Há alguns anos atrás, quando eu morava na região metropolitana, não sei exatamente porque, mas as pessoas eram mais espontâneas. Hoje dia estão perdendo essa espontaneidade típica de pessoas que se conhecem e se gostam.

Lá as crianças jogavam bola na rua, os adolescentes andavam de roller, soltavam pipa e ainda iam à escola. A gente não precisava arrumar para ir à padaria, ia de havaianas. Telefone público, só na farmácia.

Não sei se por esse pretenso clima de descompromisso, era normal receber a visita de um amigo ou conhecido sem aviso prévio. Tocava o interfone e a mãe gritava "É o fulano minha filha! Pode subir, fulano, ela está lá na quarto". E quase nunca havia um interesse oculto nessa visita. Ia pra falar de tudo e de coisa nenhuma, iam pra tomar café. E também havia aquelas visitas de domingo que chegavam pra almoçar. O aviso acordado nesse caso era chegar cedo, antes de começarem os preparativos para o almoço, já que teríamos que aumentar os pratos. E as visitas iam embora à tardinha, "em tempo de pegar o ônibus ainda vazio".

Hoje, não sei se pelo fato de haver violência nas ruas, trânsito intermitente ou acúmulo de compromissos ou tarefas, simplesmente é quase impossível visitar alguém do modo antigo. Há os que pedem até uma semana de antecedência para receber a visita. Há os que preferem um encontro fora de casa. Há os que só se falam e se abraçam via telefone, e-mail ou cartão comemorativo. Há os que não se vêem.

Agradeço muito, enormemente por ainda haver pessoas que nos visitam, nos recebem e que ainda nos enviam mensagens desejando as coisas mais lindas:

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

(Adélia Prado)


Porque é preciso receber e pra isso é a casa. A casa de pedra e a casa de nós mesmos.

Nenhum comentário: