Roteiro Inacabado

"O que você faria se não tivesse medo?"A pergunta visitava sua mente de minuto em minuto, em uma repetição enlouquecedora. Procurava centenas de respostas, mas, no fundo, já sabia."Arriscaria para ser feliz".E foi assim que ela resolveu.

1 de jun. de 2009

Eu e a Carolina Ferraz

Lá estou eu, quieta, muito na minha, em frente ao Colégio Militar, logo após fazer duas provas de fundir o cérebro. Esperando uma amiga: calça jeans, bota, blusão, casaco, franja presa.
Com meu inseparável cigarrinho aceso e uma colega, espero pacientemente minha amiga que ficou de me buscar naquele dia de chuva horrível, quando observo uma senhora um pouco mais adiante.
Ela olha pra mim e olha pra bolsa. Olha de novo pra mim e olha pro chão. Com cara de quem pensa: "vou? não vou?" Eu já entro no meu mode de mau humor, prevendo que serei abordada pela senhora para alguma informação que não saberei prestar, ou alguma boa ação que não quererei fazer (e nem poderei, porque não tenho dinheiros no momento).
Então ela se decide. E vem vindo. L-e-n-t-a-m-e-n-t-e. Está tão envergonhada e olha tanto pro chão que mais parece um menino de doze anos prestes a me chamar pra dançar música lenta numa festa americana.
Olho pra ela, começando a preparar a minha cara de "não, não sei", que é muito parecida com a de "não, não tenho" e deixo que ela fale. Eis a pérola: "Você não é aquela moça da novela?" Eu olho pros lados. Moça da novela? Pffffffffffff. Seguro a risada e volto pra senhora: "Não, não sou" (e vejam só como é apenas uma variante do "não, não sei" e do "não, não tenho"). Ela olha de volta: "Tem certeza que você não é a moça da novela?" Eu dou uma risadinha sem graça - enquanto olho para os lados procurando alguém que confirme a minha versão - minha colega, que deve ter rolado rua abaixo de tanto rir - e reitero: "Tenho, sim senhora." [Ora, veja bem, que se eu fosse a Carolina Ferraz ou coisa parecida eu não estaria às quatro da tarde de um dia de chuva e frio, cheia de livros e cadernos na mão em frente ao Colégio Militar, mas sim fazendo uma escova nos cabelos ou estaria tomando um café com o Reynaldo Gianecchini (ora, me deixem, se eu fosse a Carolina Ferraz, eu faria isso) ou me preparando para entrar em cena.]
Ela vai guardando de volta na bolsa o caderninho ou coisa que o valha, onde ela planejava que eu colocasse meu "autógrafo". Fico curiosa: "Mas que moça, hein?" E a mulher então, já se afastando, me fuzila com olhos fulminantes, reflexo da certeza que lhe transborda a alma: "Pois pra mim você É ela!" Me dá as costas e sai andando.
Moral da história: além de ter virado atriz, eu sou antipática e metida. Hoho.

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