Roteiro Inacabado

"O que você faria se não tivesse medo?"A pergunta visitava sua mente de minuto em minuto, em uma repetição enlouquecedora. Procurava centenas de respostas, mas, no fundo, já sabia."Arriscaria para ser feliz".E foi assim que ela resolveu.

4 de mar. de 2012

Dei para ti


Eu já tava olhando pra ele há algum tempo. Tava secando mesmo, filmando. Quando chegou mais perto eu perguntei de supetão. Você não tem coração não? Ele olhou nos meus olhos, se demorou um pouco a responder e finalmente disse.. Só vazio.

Depois destas palavras as luzes se apagaram, todo o barulho ao redor desapareceu, entrei na minha concha e só pensava em todos os corações vazios pelos quais me apaixonei, e mais do que tudo, me lembrei daquela coisa dura, fria, amorfa e esquecida num canto e que você insistia em chamar de coração. Não, aquilo não era um coração.

Naquela época eu quase morri, lembra? Depois jurei que não queria mais, que aquilo era vício e que eu tinha que dar um basta. Disse que ia parar de vez. E parei mesmo; por mais de um ano.neca de pitibiriba.

Os meus amigos e todos aqueles que me amam me perguntavam a toda hora, E aí, nunca mais? Nunca mais, dizia eu convicta e orgulhosa.

Muitos até se admiravam com a minha coragem, outros me davam força e diziam já ter passado pelo mesmo. Diziam que no ínicio era difícil mas que depois tirava-se de letra. Diziam até que um dia eu ia olhar pra trás e achar graça disso tudo. Outros achavam que eu ia desisitir, que não resistiria por muito tempo, que mais cedo ou mais tarde eu acabaria cedendo e tudo voltaria a ser como antes.

Eu continuava incrédula, imutável, imexível..por um ano. Emagreci bastante mas confesso que naquela época eu me sentia melhor. Tinha mais energia, doente eu ficava raramente, me sentia leve e acho até que era feliz; imagine só uma coisa dessas…eu feliz!

Mas aí o tempo foi passando, eu comecei a re-pensar várias coisas, a re-avaliar as decisões que havia tomado em momentos de dor e desalento. E aí foi me dando uma saudade, uma vontade louca, uma coisa aqui dentro de mim que nem sei explicar. Só pensava naquilo, só queria aquilo. Tentei resistir, tentei não ceder, lutei com todas as minhas forças. Não queria que todo o trabalho de um ano fosse por água abaixo por causa de um momento de fraqueza.

Me lembrava constantemente da minha infância, dos almoços de domingo. Me lembrava das idas na Brasa depois Parcão, e daquela moleza que vinha depois, daquela vontade de deitar numa cama, botar o pé pra cima e ficar só assisstindo as bobagens do Faustão.

De repente escutei uma voz interromper o meu devaneio e me perguntar ..moça, moça, não tem coração mas tem picanha, posso trazer?

Pode, eu pensei, claro que pode. Que venha toda picanha, maminha, fraldinha, e alcatra que há nesse mundo. Que venha toda a carne vermelha, castigada ou não, cheia de sangue e mal passada, porque de bem passada já basta eu! Que venha tudo de bom que essa vida me reserva; afinal estou em Porto Alegre, bah!

(história de uma querida amiga gaúcha, morando temporariamente no Recife...)

Nenhum comentário: